A relação comercial entre Brasil e China está prestes a dar um novo salto em 2026, com a chegada de gigantes asiáticas em setores estratégicos como mobilidade, tecnologia, alimentação e logística. Impulsionadas pela visita do presidente Lula ao país asiático e uma série de acordos firmados em solo chinês, essas empresas estão trazendo não apenas bilhões de reais em investimentos, mas também a promessa de milhares de novos empregos e o redesenho de disputas em mercados já consolidados no Brasil.

A nova fase da presença chinesa por aqui não se limita à tradicional importação de produtos manufaturados ou à compra de commodities brasileiras. O que se observa é um movimento robusto de instalação de fábricas, abertura de redes de franquias, expansão de plataformas tecnológicas e digitalização de serviços — sinalizando que o Brasil virou um celeiro importante de crescimento global.

GWM aposta em veículos eletrificados 2g4a4k

Um dos destaques dessa nova onda é a Great Wall Motors (GWM), que anunciou uma nova rodada de investimentos de R$ 6 bilhões no Brasil, que se somam aos R$ 4 bilhões anteriormente divulgados. A montadora, que ocupa a antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), começará a produção local em julho de 2025. O novo aporte está previsto para ser aplicado entre 2027 e 2032, com foco na ampliação da fábrica e na inclusão de dois novos modelos à linha de produção: o SUV Haval H9 e a picape Poer.

Além do já anunciado Haval H6, a GWM planeja atingir uma capacidade de produção de até 100 mil veículos por ano, com geração de mais de 2 mil empregos diretos. A movimentação da empresa sinaliza o fortalecimento da indústria de veículos híbridos e elétricos no país, segmento onde outras chinesas como BYD já conquistaram mercado.

Keeta quer bater de frente com iFood 63s23

Outro investimento bilionário vem da gigante chinesa Meituan, dona da plataforma de delivery Keeta. A empresa anunciou o investimento de US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) para estabelecer uma operação robusta de entregas no Brasil nos próximos cinco anos. O plano é desafiar diretamente o domínio do iFood e marcar presença em centenas de cidades com uma proposta de tecnologia de ponta, e a restaurantes locais e geração de empregos.

A Keeta já atua em Hong Kong e estreou recentemente na Arábia Saudita, acumulando aprendizados em diferentes mercados emergentes. No Brasil, a ideia é montar uma infraestrutura nacional de logística e oferecer ferramentas digitais aos parceiros.

Rede de fast food 695e20

Outra aposta ousada vem do setor de alimentação. A rede de sorvetes e chás gelados Mixue Ice Cream & Tea anunciou sua entrada no Brasil com um investimento de R$ 3,2 bilhões e expectativa de criar até 25 mil empregos até 2030. Com mais de 45 mil unidades na Ásia e em países como Singapura, Indonésia e Tailândia, a empresa se tornou maior em número de lojas que McDonald’s e Starbucks, graças a um modelo de franquias de baixo custo e forte apelo jovem.

Fundada em 1997, a Mixue aposta em bebidas adocicadas a preços íveis (cerca de R$ 4,70 por item), mascotes carismáticos e lojas visualmente marcantes. Apesar do sucesso, a rede já enfrentou denúncias na China por falhas em segurança alimentar, o que levanta o alerta para os desafios da regulação sanitária e trabalhista no Brasil. Ainda assim, o potencial de impacto no mercado nacional é grande, especialmente entre os consumidores mais jovens.

Outros setores e players em expansão 282sl

Além das já citadas GWM, Meituan (Keeta) e Mixue, outras empresas chinesas também estão se preparando para ampliar ou iniciar operações no Brasil. É o caso da CGN (China General Nuclear Power Group), que anunciou aportes no setor energético brasileiro, reforçando a aposta em fontes renováveis e parcerias com estatais locais.

No setor de mobilidade urbana, o grupo Didi Chuxing — controlador da 99 — também volta a apostar no Brasil. Após encerrar o serviço de entrega 99Food em 2023, a empresa promete investir R$ 1 bilhão na retomada do serviço e expansão de sua operação logística, esquentando ainda mais o mercado de delivery, que já se tornou um dos mais competitivos da América Latina.

Brasil no centro da estratégia chinesa 6l4z64

O conjunto de anúncios recentes soma mais de R$ 27 bilhões em investimentos prometidos por empresas chinesas apenas neste ciclo. A aposta não é casual: o Brasil é visto como um mercado de consumo em expansão, com recursos naturais abundantes e localização estratégica para ar o restante da América Latina. A China, por sua vez, busca diversificar sua presença global e reduzir a dependência de mercados como o americano e o europeu.

A visita de Lula à China, acompanhado por 11 ministros e mais de 200 empresários, é uma evidência do esforço diplomático para atrair mais capital estrangeiro e promover parcerias de longo prazo. A missão brasileira também teve encontros com representantes do governo chinês e do setor privado, o que deve ampliar ainda mais o leque de anúncios nos próximos meses.

Resumo das empresas com previsão de investimentos no Brasil: 6h5d55

1. GWM (Great Wall Motors) — Setor: Automotivo

  • Investimento total: R$ 10 bilhões (sendo R$ 6 bilhões anunciados recentemente).

  • Local: Iracemápolis (SP), onde está em construção a nova fábrica da montadora.

  • Empregos previstos:

    • 800 novos empregos até o final de 2025.

    • Expansão futura para mais de 2 mil empregos diretos.

  • Produção:

    • SUV híbrido Haval H6 (já anunciado).

    • Novos modelos: SUV Haval H9 e a picape média Poer.

  • Capacidade de produção prevista:

    • Inicial: 50 mil veículos/ano.

    • Futuro: até 100 mil veículos/ano.

2. Mixue — Setor: Alimentação (Fast food, sorvetes e chás gelados)

  • Investimento previsto: R$ 3,2 bilhões.

  • Empregos estimados: até 25 mil empregos no Brasil até o final da década.

  • Atuação:

    • Primeira operação da rede no Brasil.

    • Modelo de expansão por franquias com baixo custo.

    • Foco em produtos íveis (sorvetes e bubble tea).

3. Keeta (Meituan) — Setor: Delivery e tecnologia

  • Investimento: US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) nos próximos cinco anos.

  • Objetivo:

    • Criar uma rede nacional de entrega de comida.

    • Fornecer ferramentas digitais e de marketing para restaurantes locais.

    • Concorrer diretamente com iFood e 99Food.

  • Empregos: Embora o número de vagas não tenha sido detalhado, o plano inclui geração de empregos no setor de logística e tecnologia.